Racismo no Futebol: Até Quando?

Facebooktwitterpinterest

Em tempos de Copa do Mundo, o futebol possui como virtude a capacidade de estreitar laços e unir culturas e povos, sem qualquer tipo de distinção, seja racial, crença ou origem. Não importa quanto tempo passe, a linguagem da bola permanece universal.

Mas, mesmo diante de tudo isso, recorrentemente nos deparamos com episódios e atos discriminatórios, que tomam os noticiários, seja em território nacional ou internacional.

E nem a Seleção Brasileira foi poupada. No amistoso entre Brasil e Tunísia, disputado em Paris, na última terça-feira (27/09), uma banana foi arremessada ao gramado, durante a comemoração do segundo gol brasileiro, marcado por Richarlison, em partida que terminou com vitória da Seleção por 5 a 1.

Outro caso recente, envolveu o ex-atleta do Flamengo, Vinícius Júnior. Atualmente no Real Madrid (ESP) e titular da Seleção Brasileira, o atacante foi criticado por dançar nas comemorações dos gols de sua equipe e foi comparado a um macaco. Lamentável.

Idealizador e diretor do Observatório do Racismo, criado em 2014, com o objetivo de monitorar e divulgar casos de discriminação no futebol, Marcelo Carvalho, afirma que erradicar o preconceito no esporte ainda é bastante utópico, pois, acredita, que ele ainda está muito enraizado na sociedade. “Vejo que o futebol pode avançar na diminuição dos casos, com relação ao que temos hoje, e isso passa diretamente por punições mais severas, principalmente aos clubes, seja com perda de pontos ou mandos de campo, o que torna o caminho mais fácil.”

Além da maior rigidez nas penas, ele complementa que se não houver campanhas de conscientização, nada disso terá valor. “Só punir o torcedor normalmente não adianta, pois colocam o clubismo à frente, não dando a relevância necessária ao tema. As pessoas precisam parar de pensar que racismo é só o ato de xingar e insultar, porque é algo de uma complexidade muito maior.”

Diante disso, Marcelo também aponta ações educativas que visem, ao menos, minimizar o impacto do racismo dentro das relações sociais. “O marketing também é uma ferramenta crucial, pois nunca tivemos campanhas efetivas nesse sentido, com mensagem nos telões, nos estádios e dos capitães das equipes. Acho que caberia discutir mais medidas, e o caminho passa por uma ampliação no debate sobre o que é de fato o racismo e o que podemos fazer para prevenir e combater.”

Apesar dos incidentes ocorridos dentro de campo, fora dele foram feitas denúncias na Taça Libertadores da América. Somente nesta edição, ocorreram relatos nos jogos do Corinthians, Fortaleza e Palmeiras, por exemplo, o que fez a Conmebol imputar sanções mais graves aos torcedores responsáveis, mas que até então, não surtiram o resultado esperado.

Os relatórios anuais da discriminação

O Observatório faz relatórios anuais sobre a Discriminação Racial no Futebol, que é a uma análise sobre os incidentes raciais no futebol brasileiro. Já são nove documentos, com divulgação iniciada em 2014. “No documento são apresentados os casos de preconceito e discriminação ocorridos no esporte brasileiro, correspondentes ao período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de cada ano. A análise de dados e informações sobre os desdobramentos dos casos, assim como suas respectivas punições aos envolvidos, são feitas apenas em relação aos incidentes classificados como os de “racismo no futebol” – Observatório.

Para acessar – cliquem neste link. 

Com a palavra, o torcedor

O estudante de biologia da UFRJ, Philippe Azambuja, enxerga o futebol como um espelho para a sociedade. Torcedor do Vasco, um dos clubes pioneiros na luta pela inclusão, ele alega que a identificação dos agressores e possíveis sanções judiciais, como o banimento dos estádios, são exemplos que devem ser seguidos, para que as medidas protetivas passem a vigorar com mais rigor.

E vai além, julgando necessário que um clube de futebol crie raízes com seu torcedor. “Na maioria das vezes esse elo é familiar, mas no caso do Vasco, por ser o único clube grande do Rio que possui sede na Zona Norte, e ter seu estádio localizado próximo a uma comunidade, faz com que as pessoas se identifiquem em diversos níveis, devido a história do clube na luta anti racial. Recentemente também abraçou a causa LGBTQIA+, que tem fortalecido ainda mais essa identidade.”

Por outro lado, Patrick Oliveira, também estudante da UFRJ, pensa diferente. O rubro-negro entende que não é justo o clube se tornar refém de seu torcedor, cabendo às Federações encontrarem outros meios de punição, sem se eximir dessa responsabilidade. Além disso, o universitário afirma que a imprensa tem papel fundamental nestas denúncias, relatando os fatos e expondo os culpados para que não aconteçam mais.

Tais depoimentos, demonstram que essa batalha ultrapassa a barreira das quatro linhas, sendo importante, preliminarmente, uma conscientização social, além de uma maior fiscalização dos Órgãos responsáveis, sejam eles, públicos ou privados, se manifestando através de ações pela prevenção, combate e punição destas práticas de forma exemplar.

Mas, segue a grande pergunta: Até quando?

 

Por Bruno Sadock e Thiago Chavantes – repórteres do Fim de Jogo, integrante do projeto da DC Press / Fimdejogo e da Universidade Veiga de Almeida. Supervisão Cris Dissat.

*Foto do Marcelo Carvalho é de Lucas Figueiredo/CBF, durante evento na sede da Confederação. 

Facebooktwitterpinterest

Post Author: Equipe Fimdejogo