Atualmente a vida dos jornalistas e dos blogueiros é sempre dividida em muitas tarefas. Aliás, como todo mundo. Dificilmente você vai encontrar uma pessoa que esteja fazendo apenas uma coisa nesse nosso mundo. Imaginem então quando isso envolve paixão como o futebol?
Mas talvez, dessa forma, as pessoas estejam tentando abstrair esse sábado de Flamengo x River, onde o time rubro-negro volta a disputar uma Libertadores depois de 38 anos.
Impossível. Porque não importa onde você esteja porque o assunto não é outro. Os que não estão envolvidos com o futebol ou torcedores que estão secando reclamam, mas é interessante avaliar que estamos vivendo um momento da comunicação diferente. Talvez só se possa entender depois.
Em geral, quando o time vence, quanto mais conteúdo se oferece, mais se consome e é isso que está acontecendo. Não tendo o resultado, a oferta de conteúdo para ser consumida tem que ser agora.
Dezenas e dezenas de postagens em redes sociais – com a visão do torcedor – que são compartilhadas minuto a minuto. Reportagens, análises, entrevistas em áudio, vídeo, foto e por ai vai. Uma overdose que se justifica por ser um momento único – e como nesse momento que escrevo o texto não se sabe o resultado – a hora é agora.
Quando tudo isso passar é importante avaliar o quanto de impacto na comunicação e efeitos surgirão nessa final.
Em 81
Uma parte de produtores de conteúdo que posta sem parar tudo o que acontece até a hora do jogo não viveu esse momento há 38 anos e espera por isso há tempos. Por isso, é tão especial e diferente.
Na última final em 81, não nos juntávamos para ver os jogos. Não existia internet como hoje, nem sequer celulares e redes sociais. Cada um fazia a sua opção para acompanhar a final, de acordo com as possibilidades. Em casa, com uma tv pequena ou juntando uns poucos amigos em torno da partida. Era a fase de Zico, Adílio, Junior e companhia. Um time que dava segurança, mas para os torcedores também era imprevisível. Não tínhamos tanta certeza das coisas, como às vezes comentam.
Também não lembro de tanta tensão envolvendo a partida. Apreensão, lógico que sim, mas como está acontecendo agora, com certeza não foi. Por um lado, o coração agradece, porque manter o controle com tanta informação é complicado.
O jogo acabou, o Flamengo venceu e estava com meu namorado na época assistindo em casa. Comemoramos, ele se despediu e foi pra casa dele. Ao chegar lá, me ligou (ahhh, só lembrando que era o telefone fixo tá) porque não conseguia dormir nem se acalmar. A gente precisava colocar pra fora a emoção. Ele voltou e nem sabíamos o que poderíamos fazer depois daquele jogo com o Cobreloa. O que fazer? Vamos pra Gávea. Nós e o Rio pensou a mesma coisa. Não havia esse planejamento todo que observamos agora.
Naquela hora a ficha tinha caído. Todo mundo em direção à Gávea. Túnel Rebouças não andava e as pessoas abriam as portas dos carros e saiam pulando. O trânsito andava, todo mundo dentro dos carros. Parava e lá recomeçava a comemoração.
Não conseguimos chegar na Gávea, passamos na frente com mais uma parada para comemorar e acalmar o coração. E assim foi esse dia.
Como será agora? Precisamos vivenciar de novo para poder contar mais uma história, que será totalmente diferente, com certeza. Se vier a vitória, com certeza será um sábado e um domingo inesquecíveis. Se não vier, a Torcida do Flamengo já comemorou, fez festa e vai continuar fazendo por mais tempo.
Muita sorte para todos e que, quem não viveu aquela época, possa ter a sensação que tivemos.
Escrevi esse texto no aeroporto de Brasília, onde tentava voltar mais cedo para o Rio para acompanhar a final transmitida no Maracanã. Vou chegar com a bola rolando e espero poder contar tudo o que aconteceu depois.