Por que não mudar? Você conhece a história de luta de Mario Filho pelo Maracanã? Sabe os detalhes? Nosso colunista, o jornalista Marco Santos conta para você o porquê vamos lutar para que o o Governador do Rio de Janeiro vete o projeto que altera o nome do nosso querido estádio.
Por Marco Santos
Fim de jogo.
As luzes se apagam no Mario Filho.
Os antigos locutores de Rádio assim encerravam as grandes jornadas esportivas no estádio monumental, palco onde os artistas do espetáculo se exibem para o deleite do povo. Maracanã, o “Maraca” para os íntimos, desde 1966 passou a ter nome e sobrenome: Estádio Jornalista Mário Filho. E queremos que continue assim. O maior do mundo tem que manter seu nome e sobrenome homenageando o grande homem de Imprensa.
Por que Mário Filho? Qual a importância desse jornalista para nomear o maior estádio do mundo?
Mário Leite Rodrigues Filho era pernambucano, do Recife, onde nasceu no dia 3 de junho de 1908. Tornou-se jornalista por influência do pai, Mário Rodrigues, dono do jornal A Manhã. Tendo todas as seções do matutino para trabalhar, escolheu o Esporte. Sempre foi um entusiasta do futebol. Das teclas de sua máquina de escrever, saíam páginas de enorme brilho, glorificando o “esporte bretão” (mais um linguajar dos antigos).
Em A Crítica, outro jornal que o velho Mário, seu pai, criara, ele inovou, descrevendo o que tinha acontecido nas partidas, mencionava os jogadores, tudo com uma linguagem simples e direta que o povo lia e entendia.
Mário Filho fundou O Mundo Sportivo, primeiro jornal exclusivamente dedicado ao esporte brasileiro. De lá, foi para O Globo, para cuidar da seção de Esportes do (na época) vespertino carioca. Pouco depois, compra do dono O Globo o Jornal dos Sports, famoso por sua capa em cor de rosa.
E Mario Filho faria do JS a sua trincheira para defender a efetivação do Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 1950. E mais: que aqui, no Rio de Janeiro, fosse construído o principal estádio daquele campeonato mundial de seleções. E como lutou Mário Filho pelo Maracanã!
Carlos Lacerda e Ary Barroso, na época, vereadores do Distrito Federal, pois era o Rio a Capital do Brasil, queriam que o estádio fosse construído em Jacarepaguá. Mario defendia que o Estádio Municipal fosse erigido no antigo Derby Club, no bairro do Maracanã. Era um terreno onde se botavam cavalos para correr.
Quem minimamente conhece a história política do Rio sabe que não era tarefa fácil ganhar uma disputa com Carlos Lacerda. E com o célebre compositor Ary Barroso e sua verve ferina ainda por cima. Mas Mario Filho enfrentou os dois, munido apenas com seus ideais e seu ponto de vista de que ali, no bairro do Maracanã, onde já tinha linha de trem, de bonde, de ônibus, e era perto do Centro seria o melhor local. Seu talento de jornalista foi suficiente para convencer a opinião pública e os mandatários cariocas da época que o Maior Estádio do Mundo deveria ser erigido naquele lugar com nome de ave parente dos periquitos. E o Maracanã pousou no antigo Derby Club…
O Estádio Municipal do Maracanã começou na Copa de 1950 a sua vocação para a glória e a tragédia. O mesmo lugar onde a turba ensandecida cantava “Touradas em Madri”, celebrando a estupenda vitória da Seleção Brasileira por 6 x 1 contra a Espanha, seria onde se verificou um dos maiores silêncios de uma multidão de cerca de 200 mil pessoas, na final da Copa de 1950.
E Mário Filho chorou. Chorou e escreveu sobre o sofrimento de um povo.
Mas a vida segue e seguiu para Mário e o Maracanã. O encontro entre as duas equipes cariocas com torcida mais colorida, o Flamengo e o Fluminense, Mário apelidou de “Fla x Flu” e a expressão pegou. Não só no Rio, como em vários lugares do Brasil onde o “clássico” de futebol local ganhou apelidos, juntando algumas letras dos nomes dos times. Por essas e outras, seu irmão, o homem de teatro Nelson Rodrigues, o chamava de “Criador das Multidões”. E ele o era. No Maracanã, ele ajudou a tornar o futebol o esporte mais popular do Brasil.
Mário Filho criou um torneio entre equipes das duas maiores cidades brasileiras: o Rio-São Paulo. Esta disputa seria a semente do futuro Campeonato Brasileiro.
O grande Mário não se restringia às páginas de jornais. Escreveu livros que se tornaram seminais para o estudo do futebol. Foram seis: Copa Rio Branco, Histórias do Flamengo, O Negro no Futebol Brasileiro, Romance do Football, Copa do Mundo de 1962 e Viagem em torno de Pelé. Este último, em 1964.
E Pelé já era personagem das crônicas de Mário Filho desde quando surgiu para o mundo na Copa de 1958. O Rei do futebol inspirava Mário Filho e suas atuações e seus gols faziam as teclas da máquina do jornalista imprimirem verdadeiras odes ao magnífico jogador. Mário Filho ajudou na construção da glória de Pelé.
Eis que o destino dos dois volta a se cruzar mais de 50 anos depois. E com o Maracanã no meio.
Em 17 de setembro de 1966, um coração que amava o futebol deixou de bater. Morreu Mário Filho. Mas não seria esquecido, pois o governo do Rio de Janeiro, reconhecido da importância do homem notável que desaparecia, deu, mui justamente, o nome de Jornalista Mário Filho ao Maracanã, que passou a ter nome e sobrenome.
O estádio, entretanto, continuaria a ser conhecido por seu apelido de passarinho: Maracanã. Certamente Mário Filho não se importaria.
Eis que um deputado carioca, nesses idos de março de 2021, num momento em que a cidade e o estado passam por uma pandemia que ceifa diariamente centenas de pessoas, resolve propor a mudança do nome e sobrenome do Maracanã.
Não querem Estádio Jornalista Mário Filho. A proposta é que ele seja chamado de Estádio Édson Arantes do Nascimento – Rei Pelé. O Maracanã que é único entre todos os campos do mundo, desta forma, passaria a ter o mesmo nome da arena de esportes de Maceió, que curiosamente também não é chamado lá pelo seu nome e sobrenome, mas pela alcunha de “Trapichão”.
Não precisamos falar aqui sobre Pelé, o eterno Rei do Futebol. As homenagens a este celestial jogador sempre são justas e merecidas… desde que não se sobreponham a pessoas que também foram justa e merecidamente homenageadas.
O Maracanã deve muito a Mário Filho. Pelé deve muito ao Maracanã, palco que foi de grandes atuações que ajudaram a projetá-lo no mundo. Sem Pelé, o Maracanã existiria e seria igualmente monumental. Sem Mário Filho e sua luta pela construção do estádio no antigo Derby Club, o Maracanã não existiria.
O Maracanã será o eterno Maracanã. Com Pelé ou sem Pelé.
Seria mais justo trocarem o nome do Pacaembu para “Rei Pelé”, pois lá ele atuou muitas vezes, marcou inúmeros gols. Mas os políticos paulistas tem mais o que fazer para se reunirem e tirarem a glória de Paulo Machado de Carvalho.
Que pena, deputados do Rio de Janeiro! Vocês decretaram game over para o Estádio Jornalista Mário Filho. Mas o Maracanã é resiliente. O povo do Rio de Janeiro não vai permitir mais este atentado ao nosso patrimônio. O jogo não acabou. O povo carioca quer o veto do governador Cláudio Castro.
#vetagovernador